Mundo de Nàrnia.

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sexta-feira, 7 de março de 2014

Sonho de Ìcaro revisitado.

    Ela conhecia a música. E a lenda. Tinha cantado muitas vezes na época em que fizera sucesso, com Biafra.
     Mas agora era diferente. Tinha uma pergunta pra Deus: “Por quê eu sou tão sozinha?” Ela se dirigia a Jesus na sua dor. Por quê era tão sozinha? A família, por parte de pai, a abandonara. E pior, era seu aniversário.Precisava ficar lembrando às pessoas que era seu aniversário? A família por parte de pai, a tinha rodeado quando era pequena. Tinha ido a seus muitos aniversários, na infância. Acho que ela nunca percebeu isto, que eles estavam ali porque o pai era rico e dava grandes festas. Começaram o abandono pelo pai, quando ele começou a empobrecer. Já não havia mais festas, nem visitas à casa da avó paterna. Olhavam só o dinheiro que ele tinha e depois deixou de ter.Depois que cresceu, passou por poucas e boas. Mas ainda não havia reparado que a família havia se afastado.
     Enfim, era mais uma vez seu aniversário, 46 anos. Em todo esse tempo, muita coisa acontecera na sua vida. Voltou-se para Deus, com mais fé, pois via provas da existência de Deus na sua vida. Tornou-se mais religiosa por isso. Sua fé em Nossa Senhora e Jesus só fizeram aumentar. Deus estava lhe dando o que pedia. Pois ela perdoou as pessoas que lhe fizeram mal. Mas uma coisa a deixava aflita: a sua solidão. Neste dia tinha falado com uma prima por parte de pai pelo Facebook. Ela falou do aniversário e a prima deu uma resposta que ela não gostou, uma risadinha. Arrependeu-se de ter falado fosse o que fosse.Então perguntou a Jesus: “Mestre, porque eu sou tão sozinha?” No silêncio do quarto, veio-lhe a letra da música:”O que faz de mim ser o que sou/ é gostar de ir por onde ninguém for/Do alto, coração, mais alto, coração”.
     Revisitou a lenda de Ìcaro. Ele vôou. Sim, ele voou. Colocou asas e o sol derreteu a cera, mas o que importa é que ele voou.
     Jesus deu seu consolo. Mas dessa vez, não ficaria só com ela. Escreveria sobre isso, sobre essa dor. E a possibilidade de compreender o inimigo. Perdoar e seguir em frente. E se um dia ela morresse e a família nem tomasse conhecimento, estar em paz consigo mesma. O perdão acima da dor. E a sua fé em Deus gerando novos mundos, onde a alegria e a consolação permanecem.


Fátima Braga, 6 de março de 2014.