Atriz se preparando para entrar em cena.
Ultima a maquiagem na frente de um espelho. Fala para sua camareira.
CACILDA – Éramos muito pobres. Passamos por muita
humilhação,mas sempre tinha a alegria de viver. E quando a arte entrou em minha
vida, fez ultrapassar todas essas humilhações. Dediquei-me à arte com todo amor
que tenho no coração. Hoje mesmo, é a estréia de mais uma peça, A longa jornada noite adentro. Colocar
maquiagem, figurino, Rever detalhes do texto. As marcas. E a contracena com os
companheiros. Já fiz Pega-Fogo, em
que tive de fazer um imenso sacrifício, ficava com meus seios em carne viva,
por causa do esparadrapo que usava. Tudo em nome da arte. Hoje é mais uma
estréia, é sempre uma felicidade nova. Daqui há pouco esta porta se abre e vem
me chamar. É mais uma vez o contato com o público, “ouvir” a platéia. Isso me
enche o coração de alegria. É emocionante sentir junto com o público o
desenrolar da história. E mais tarde ler as críticas. Dizem que tenho uma voz
pequena. Nada posso fazer, é minha voz desde que nasci.
- Me chamam agora. (Levanta-se, tira o roupão e fica com o figurino da peça) Vou mais
uma vez encarar o palco, esse desafio constante. (Se olha no espelho.) – Merda pra mim. (e sai pela coxia real).
Fátima
Braga, 29 de outubro de 2014.