Mundo de Nàrnia.

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sexta-feira, 11 de abril de 2014

O Ateu


     Quando Nossa Senhora ajuda, ajuda mesmo. Corria o ano de 1970.Nosso personagem é um homem de 40 anos, ateu convicto, comunista que estava participando dos movimentos políticos do Brasil, as guerrilhas. Estava envolvido até os ossos. A sua família, no entanto, era cristã, acreditava nas graças e bênçãos de Nossa Senhora. Ouvia sua mãe falar dos milagres dela, mas nunca tinha dado ouvidos. Prezava sua condição de ateu até o limite do desconhecido.  Queria mudar o Brasil, instalar o regime comunista no país. E não acreditava que santo fizesse milagre.
      No ano de 1970, participou de uma ação, foi baleado na perna e preso. Não tiveram piedade com ele, ele não foi levado para um hospital para se tratar, mas aos porões da ditadura. Foi interrogado e todo dia, havia sessão de tortura. Este homem não denunciava nada, não delatou nenhum de seus companheiros. Mas o tempo passou. E passou daquele jeito. Ele já tinha perdido a conta dos dias. A ferida da bala postemara e agora outras se espalhavam no seu corpo. Não tiveram nenhuma  piedade com ele. Um dia, jogaram outro preso na cela dele. Já este homem era homem de fé. E conversava com ele sobre o que estava acontecendo. Dizia que acreditava em um milagre de Deus, que todo aquele horror iria parar. Dizia para o outro acreditar em Nossa Senhora, nossa advogada, que não se esquecia de nós. Ele, muito firme em sua convicção, não acreditava. O companheiro disse que fizera uma promessa a Nossa Senhora, que cumpriria se saísse vivo daquilo. Ele não vacilou em dizer que Deus não existia e que suas convicções eram profundas.
     Mas um belo dia, notou que o companheiro não era mais levado a sessões de tortura. E mais, que vieram com alvará de soltura nas mãos. Ele iria sair vivo dali.
    Pensou: “No que minha falta de fé está me ajudando? E foi levado para uma sessão de tortura que o deixou mais que arrasado. Porém vivo. “Estou tendo uma chance de viver. Quantos já vi que não sobreviveram? Será que existe um Deus que regula tudo isso?. Não gosto de Deus. É uma figura antipática aos meus olhos. O Criador, que domina tudo. Não gosto de quem domina. Mas eu ousaria pedir algo à Virgem Maria, que é mulher e talvez se compadeça dos meus sofrimentos. O que posso prometer a ela?”
    Pensou. E decidiu. “Prometo espalhar a devoção a ela. Se ela me tirar dessa, prometo que vou ser ativo propagador de sua fé”.
No dia seguinte a esta decisão, notou que não o chamaram mais para nova sessão de tortura. E mais dias se passaram sem que assim fosse. Quinze dias depois, ele foi levado para um campo, onde havia um helicóptero, que o levou a um aeroporto.Compreendeu. Estava numa lista de troca de presos do regime. Foi viver em Paris, no exílio. E lá cumpriu sua promessa. Estava velho demais quando o Muro de Berlim caiu e viu o fim do comunismo. Viu a ação de Nossa Senhora ali. Ainda não gostava de Deus, mas passou a acreditar no mundo espiritual, certo de que os espíritos agiam em nosso mundo. Quando morreu, já no Brasil, tinha filhos, netos e bisnetos. Pôde ver as novas gerações prosperarem. E falava para eles com carinho da Virgem Maria, que o ajudara quando estava preso e quase sem esperança de sair de lá vivo. No seu enterro, velhos companheiros de política, os filhos, netos e bisnetos. E sua alma entrou nos mundos espirituais, terra da bem aventurança, onde a fé é o alimento.


Fátima Braga, 4 de abril de 2014.

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