Meu
nome é Vera. Vivo por ai, largada, sei lá. Perdi tudo, sabe? Meus pais, minha
casa, onde comer, onde me vestir, onde me lavar. É, onde me lavar. Peço aí nos
bares, sabe? Não tenho onde dormir, meu lar é a rua, onde faço minha vida. Isto
aqui? (fala do cigarro na mão)Uso
para passar a sensação de fome. Vivo pedindo dinheiro pelas ruas, pra comer.
Como o que me oferecem, é só o que dá. Já fui muito humilhada, muito
maltratada. Há lugares onde passei de onde fui escorraçada. Pensam que vou
roubar, que vou cair em cima e pegar a bolsa. Meu Deus, ainda tenho dignidade,
não roubo não, eu peço. Eu era cantora, sabe? Mas me envolvi com as drogas.
Perdi minha mãe com 14 e meu pai aos 18 anos. Eu cantava, era tão bom. Meu
mundo caiu, não tem aquela música que diz assim? Vivo essa vida de déu em déu.
Uma vez encontrei uma moça apavorada. Olhei bem na cara dela e disse:”Moça, o
que lhe impede de ser feliz? Tava toda tensa, toda estressada. Me contou que
não dava certo no amor, estava apavorada com a vida, cacete! Por isso perguntei
aquilo. Deu pena. Pior situação ali era a minha e ela se queixando da vida! Mas
eu não ri não. Cada um sabe onde a dor é mais forte, onde o sapato aperta pior.
Sei lá, tem gente que endoida da falta de um amor.
Eu? Nem
penso nisso, vou levando. Não sou prostituta pra me vender. E olhe que já
pensei nisso. Mas refiro manter a minha dignidade. E vou vivendo. Com fome
apertando, bituca acabando, até achar alguém que me ajude de verdade. Pois essa
esperança eu tenho: que alguém chegue e diga: Tenho um lugar pra você. Lá você
nunca mais passa fome. Se esse lugar existir de verdade, corro pra ele. Até
essa droga eu largo. E vou ser feliz, ah, renascida e muito feliz.
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